A Europa e a Turquia

05-04-2011 23:57

 Há algumas semanas, num seminário numa Universidade de Istambul, um grupo de participantes perguntou aos alunos como viam o futuro da Turquia na Europa.

A grande maioria dividiu-se em duas respostas. Uns disseram que não queriam a Turquia na União Europeia. Estão "cansados de serem humilhados pelos europeus". Um dos alunos afirmou, "somos sempre o candidato a mais; éramos o candidato a mais quando a União tinha 15 países e somos o candidato a mais quando a União tem 27 países". Outro acrescentou, "devíamos ter tido um regime comunista durante a Guerra Fria: os antigos países comunistas já entraram, nós éramos aliados da Europa e continuamos de fora".

O outro grupo confessou que gostavam que a Turquia entrasse mas logo adiantaram, "mas não acreditamos": "a Europa não gosta de nós, somos muçulmanos". São frases terríveis, vindas de uma geração que deveria ser a mais "pró-europeia" na Turquia. O campus universitário poderia ser em qualquer cidade europeia. Os alunos vestem-se, comportam-se e discutem como qualquer jovem europeu. E, no entanto, não querem ou não acreditam que o seu país entre na União Europeia.

Estas posições são o resultado de erros que alguns países europeus têm cometido em relação à Turquia. E aqui convém ser claro. É errado e injusto culpar a "Europa" em geral. As instituições europeias, e em especial a Comissão, têm feito tudo para reforçar as relações com a Turquia (e os turcos sabem muito bem). A par dos erros de alguns europeus, há alguns sinais preocupantes vindos de Ancara.

As intenções do AKP e de Erdogan não são claras. Também aqui a sociedade turca se divide. Uns reconhecem que o AKP é um partido conservador, religioso, mas não acreditam que questione o secularismo e muito menos ameace a democracia. Outros consideram que Erdogan pretende criar um "regime de um partido" e limitar a liberdade e o pluralismo políticos, apontando como exemplos inquietantes a prisão recente de jornalistas.

Num ponto quase todos concordam: a Turquia não tem alternativa à Europa. No máximo, o Médio Oriente será complementar à integração na Europa. A maioria dos turcos conhece bem os inúmeros problemas da região e temem que a instabilidade regional acabe por afectar a própria Turquia. Aliás, com a instabilidade política a chegar às fronteiras turcas, o governo turco não consegue evitar as contradições. Se no Egipto, colocou-se claramente ao lado dos protestos, na Síria apoia o governo. E a região e os turcos notam a contradição. Apesar do que muitos afirmam, o futuro da Turquia é na Europa e não no Médio Oriente.

As modalidades de integração podem ser discutidas, mas não se pode excluir a Turquia por razões religiosas. Seria dramático e constituiria um retrocesso histórico para a Europa.

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João Marques de Almeida, professor universitário