Saiba mais sobre Ancara, a Brasília da Turquia

Igual interesse foi despertado por “Kapaliçarsi” (Grand Bazar) , lançado em 2009 pelo canal privado de televisão ATV. O mercado da era otomana, com suas quatro mil lojas, ganhou vida nova para os estambulitas. Os otomanos serão lembrados também no filme “The Topkapi Affair”, com Angelina Jolie e Pierce Brosnan, a ser lançado entre 2012 e 2013. Melhores condições econômicas, investimentos culturais e o esplendoroso visual das artes otomanas respondem pelo aumento de interesse do público turco e internacional. Hoje mesmo os jovens estudantes dedicam seu tempo desvendando a história e a literatura da era imperial. O turismo internacional, que vem crescendo há vinte anos, responde  pelo aumento do interesse nas artes tradicionais. Desde 1980 a Turquia vem se preparando para o Turismo, colocando enormes somas de dinheiro em infraestrutura, transporte e comunicações. Também foram gastas fortunas na restauração e redecoração de prédios históricos, com o  Palácio Topkapi  e o Palácio Domabahçe, magnífico prédio construído para o sultão nas margens do Bósforo. O mundo está consumindo a herança otomana, comprando em leilões da Sotheby’s de Londres ou da
Christie’s em Nova York , peças do império . Também renasceu o interesse pelas mesquitas do passado, pelas seitas místicas, que tiveram papel importante no império otomano, e foram banidas durante os primeiros anos da República. Muitos procuram agora ler textos religiosos em otomano,  e escolas particulares e fundações já abriram cursos de otomano e árabe. O retorno ao passado está fazendo também os caminhos de revival das delicadas artes da cerâmica, das pinturas miniaturas, da caligrafia otomana.
Os turcos estão voltando ‘as raízes, aprendendo mais sobre os primeiros tempos do país.


BRASÍLIA TURCA
Assim como Juscelino Kubitschek  transferiu a capital brasileira do Rio de Janeiro para Brasília, Mustafa Kemal Atatürk, o Pai da Turquia, preferiu Ancara a Istambul, para ser a capital. Sua posição em um plateau , sobre uma montanha de pedra, com planícies no sul e montanhas no norte, longe dos oceanos e no coração do país, garantia boa defesa e refletia o caráter de modernidade da Turquia, objetivo principal de Atatürk. Foi designada capital do país em outubro de 1923, com planificação que a aproximava do Ocidente. A velha Ancara foi construída em torno de uma elevação protegida por muralha. Hoje é atração turística, com suas ruazinhas estreitas serpenteando por caminhos cobertos de pedras irregulares. As casas foram construídas com tijolos de barro, madeira aparente (enxaimel) e fazem o charme da região em torno do Museu Arqueológico, no alto da cidadela. A parte mais ao norte, ainda intocada pela modernidade, guarda remanescentes dos templos de Augustus e Roma, os mais antigos, provavelmente do século 2 antes de Cristo; os banhos romanos do século 3; a coluna bizantina de Julian (século 4), e as mesquitas Arslanhane (1290), Ahi Seref et Tin (1330),Ahi Elvan (1331-61) e Haci Bayram ( do século XVI).


A avenida principal norte-sul é o boulevard Atatürk, que vai da praça Ulus até o palácio presidencial no alto de Çankaya, no sul, passando pela Ópera, a Casa do Povo, o Museu Etnográfico, em frente do qual o destaque é a estátua eqüestre de Atatürk, obra do escultor italiano Canônica. Logo em seguida fica a Faculdade de Letras. Aí começa a nova Ancara (Yenisehir), passando pela praça  Kizil Ay , o centro das lojas mais sofisticadas e a área residencial. No sul fica o distrito de Bakanliklar, onde estão agrupados os ministérios, o bairro diplomático, que se estende para o sul.O prédio da grande assembléia nacional fica na parte nordeste da cidade. No ponto mais elevado, visível de todas as partes de Ancara, está a principal atração turística: o mausoléu de Atatürk, completado em 1953. Outros monumentos são o da Vitória, na praça Ulus, comemorando a aniquilação do exército grego em agosto de 1922, e o monumento da Confiança, em Kizil Ay, com a inscrição famosa Ögün, Çalis, Güven, traduzida por “Seja Orgulhoso, Trabalhe e Seja Confiante”.
Reduto de funcionários públicos, como Brasília, Ancara tem uma Universidade  fundada em 1946, uma Biblioteca Nacional, um Teatro do Estado e estação de rádio. Uma excursão favorita dos locais é para  Çubuk dam, com cassino e restaurante, em um cenário de grande beleza, distante apenas 8 minutos ao norte. A  cidade tem ligação de trens com Istambul, Izmir (Esmirna) e  Adana e estradas bem conservadas que levam o visitante para todas as partes do país.O aeroporto de Esenboga, distante 16 minutos, é usado por serviços internacionais regulares.


HISTÓRIA REMONTA A ANTES DOS HITITAS
A fundação de Ancara é incerta, mas evidências arqueológicas apontam para povos vivendo na região muito antes dos Hititas. O nome Ancara deriva de Ank, garganta ou despenhadeiro. A cidadela foi construída no período dos frígios como uma fortaleza, na junção  das estradas da rota comercial. Tomou o nome de Ancyra e foi ocupada por Alexandre, o Grande, em 333 antes de Cristo. A história é longa, passando por muitos invasores, até a chegada dos romanos, em 189 antes de Cristo. Foi   capital da província romana de Galatia em 25 antes de Cristo. O Cristianismo foi introduzido no primeiro século depois de Cristo. Mais tarde, já como cidade do império Bizantino, Ancyra teve  grande importância comercial e foi invadida por diferentes exércitos, inclusive o persa, e o árabe. Em 1073 caiu nas mãos dos turcos seljuks. Sob o domínio otomano, em 1403, tornou-se um grande centro de comércio e ponto de encontro de caravanas. Ancara ganhou vida nova em 1919, quando Atatürk escolheu a cidade para seu quartel general e corpo de representantes. Em abril de 1920 a grande assembléia nacional se reuniu pela primeira vez, iniciando um progresso rápido. Em 1928 teve replanejamento urbano orientado pelo engenheiro alemão H.Jansen e, com avenidas asfaltadas e edifícios altos, iniciou seu caminho já em 1960, como a mais moderna cidade da Turquia. O Pai dos Turcos transformou o país, trocando a escrita otomana pelo alfabeto latino, apoiando os direitos sociais das mulheres, abolindo a poligamia,  exigindo a roupa ocidental em detrimento aos trajes regionais, o fez e o véu, introduzindo compulsoriamente o sobrenome, e transformando o feriado das sextas feiras para o domingo.


MUSEU DAS CIVILIZAÇÕES ANATÓLICAS
Não é grandioso, imenso, com tantos outros museus do planeta. Mas guarda em suas salas tesouros especiais, como os primeiros passos do homem, seus primeiros trabalhos artísticos, suas primeiras religiões, suas primeiras descobertas.Visita indispensável para quem está em Ancara, o museu abre diariamente, exceto ‘as segundas feiras no inverno. Lá estão vestígios paleolíticos, neolíticos, hatti, boa representação hitita, frigia, urartu.
Bons exemplos do que  você vai encontrar por lá: Geyik Heykeli, escultura de um cervo , presente de enterro, encontrada em uma tumba em Alacahöyük. Feita em bronze, é do terceiro milênio antes de Cristo;  Günes Kursu, Disco do Sol, símbolo dos Reino dos Hititas. Mas era também encontrado na sociedade Hatti, que existiu antes do período Hitita. A forma cilíndrica no centro representa o sol e os outros itens em torno simbolizam a fertilidade. É de Alacahöyük, datando da Antiga Idade do Bronze, 2300 -2100 antes de Cristo.


IMPÉRIO OTOMANO
A palavra Otomano, ou osmanli, se refere ao primeiro líder, Uthman, um turco da tribo Oghuz na Ásia Menor, que morreu em torno de 1320. Seus sucessores atacaram primeiro os Bizantinos e depois a Europa. Um  império híbrido foi construído, com um forte exército e boa administração. A tomada de Constantinopla por Mehmet II  assegurou a unidade. Sob o reino de  Suleyman (1520-1566), chamado de “O Legislador” pelos otomanos, e de “Magnífico” pelos europeus, chegaram até Viena, época em que  o império otomano atingiu seu ponto mais alto. Era o Império dos Três Continentes e dos Três Mares, a “Sublime Porta”, quando os muçulmanos eram maioria, estendendo seu poder do Iraque até a Hungria, da Península Árabe para o Norte da África, com exceção apenas do Marrocos. As cidades do Império – Istambul, Damasco e Aleppo – prosperaram comercialmente e artisticamente, até serem dominadas pela competição européia. A mediocridade de alguns sultões, as brigas nos harems, o surgimento do nacionalismo,as dificuldades econômicas, minaram as forças do império. O Sultanato foi abolido em 1922, com Mustafá Kemal Pasa (1881-1938) liderando a independência ao país e abrindo o moderno caminho da Turquia. Um ano depois aconteceu a separação entre o Estado e a Religião. A República da Turquia foi proclamada em 29 de outubro de 1923, tendo Ancara como nova capital. Istambul, embora deixando de ser capital, continua, como o Rio de Janeiro, a ser a cidade mais visitada, mais amada, inesquecível. Istambul tem a mesma latitude de Beijing, Madri, Nápoles e Nova York. Com o porto e baía do Corno de Ouro (Golden Horn), e o Estreito do Bósforo, de 32 quilômetros, que conecta o Mar Negro e o Mar de Marmara, marcando a separação entre a Europa e a Ásia, Istambul é única no planeta.


ÇIRAGAN PALACE HOTEL KEMPINSKI
O palácio, completado em 1874, foi residência dos últimos sultões otomanos. Decorado com elementos mouriscos, é cópia da arquitetura da Alhambra, na Espanha. A parte moderna também guarda o estilo do prédio principal e oferece 315 suítes, cinco restaurantes, um centro de bem estar ( sauna, banho turco), piscina de horizonte perdido em frente ao Bósforo. Mesmo quem não se hospeda no hotel cinco estrelas, deve pelo menos tomar um chá na beira da piscina ou olhar as vitrines das lojas de luxo, dentro de seus espaços comuns.


TOPKAPI
A parte antiga de Istambul foi declarada patrimônio mundial pela Unesco em 1985. Uma série de palácios e mesquitas foram classificados, entre os quais Topkapi e a mesquita de Süleymaniye. Depois de  1453, o sultão Mehmed II  dotou a então nova capital de um grande bazar e do majestoso serail de Topkapi, com sua bela sala do trono, os mucharabiehs do harem e as fontes dos jardins. Para guardar recordação ou comprar lembranças para os amigos, uma loja do Museu funciona junto ‘a entrada , com uma variada opção de presentes e souvenirs, inclusive porcelanas que repetem modelos dos usados pelos ricos e famosos da época.