Turquia: Chefias militares demitem-se em conflito com o governo de Erdogan

30-07-2011 07:29

 O chefe do Estado Maior turco e os comandantes do Exército, Marinha e Força Aérea renunciaram ontem aos cargos por divergências com o governo do país sobre a promoção de generais detidos por alegado envolvimento em conspirações contra o poder. 


Nomeado há um ano, o general Isik Kosaner, chefe do Estado Maior, reuniu-se várias vezes nos últimos dias com o primeiro-ministro, Recep Tayyip Erdogan, mas ainda não está clara a razão para sua renúncia. Kosaner e Erdogan estavam a preparar o encontro do conselho militar supremo, agendado para o início de Agosto, que decide as promoções nas forças armadas. 

Segundo a BBC, Kosaner queria avançar com as promoções anuais de alguns militares envolvidos no golpe de Estado em 2003, mas o governo não as autorizou, defendendo que esses militares deviam passar à reserva. Circulam rumores de que o general Necdet Ozel, chefe das forças paramilitares, será o sucessor de Kosaner, que classificou a sua demissão como "necessária". 

A demissão dos militares veio horas depois de um tribunal ter condenado 22 militares, incluindo alguns generais, de terem engendrado uma campanha de conspiração através da internet para derrubar o governo de Erdogan, líder do Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP), um partido islâmico moderado numa república laica muito controlada pelo poder militar. 

O plano, que dá pelo nome de "Sledgehammer", foi alegadamente apresentando num seminário do exército em 2003 numa base em Istambul. Mais 28 militares envolvidos no processo vão ser julgados no próximo mês. Neste momento, 42 generais estão detidos à espera do fim do julgamento.

Kosaner tinha sido nomeado na sequência de um tenso conflito entre as forças armadas e o governo turco. Os políticos vetaram a escolha inicial do exército, o general Gen Hasan Igsiz, porque estava alegadamente envolvido no golpe, que incluía atentados em mesquitas e a provocação de tensões com a Grécia, por forma a criarem um caos político, que justificaria a entrega do poder aos militares. 

Em tribunal, os membros do exército argumentaram que o plano "Sledgehammer" era apenas um cenário teórico para os ajudar a preparar-se para uma situação de agitação política. 

A demissão em massa das elites das forças armadas têm um significado forte na Turquia, país da NATO com o segundo maior exército e que sofreu vários golpes de Estado entre 1960 e 1980. Mais tarde, em 1987, uma campanha liderada por militares levou à demissão do primeiro governo islâmico do país. 


Fonte: https://www.ionline.pt