Turquia: crescimento para o capital, pobreza para o povo

06-09-2011 23:03

 Objetivos da Doutrina Davutoglu privilegiam ambições externas



 

Istambul - "Crescimento econômico", "democratização", ação e fortalecimento do perfil da Turquia no jogo de xadrez imperialista, como "potência periférica". Os argumentos do Partido de Justiça e Desenvolvimento com os votos do qual foi eleito o primeiro-ministro Retzep Tayyip Erdogan são e permanecem estáveis. 
 

Estáveis aliados ao lado do primeiro-ministro permanecem - em termos - a União Européia (UE), mesmo com alguns "momentos de tensão", o Mundo Muçulmano, do qual a Turquia e o Governo Erdogan aparecem como "defensores", os círculos econômicos e de investimentos e, agora, até as agências internacionais de rating. 
 

A dívida da Turquia já é caracterizada como "positiva", enquanto a economia do país cresce com ritmos extremamente velozes em condições de crise econômica capitalista, atraindo continuamente novos investimentos. 
 

E no momento em que economias tradicionalmente "fortes" desabam quase a nível zero, a Turquia (por conta da classe média), ano passado, apresentou crescimento de 8,9%, de acordo com dados do Serviço Oficial de Estatística, o que significa que foi a segunda economia em crescimento após a China. 
 

A Turquia integra-se ao âmbito das economias emergentes que, totalmente, apresentam os melhores indicadores de crescimento, considerando que o capital as escolhe para investimentos, por prometerem melhores condições, mínimo custo trabalhista, zero de "direitos sociais" e compromissos, enquanto, paralelamente, a tributação é excepcionalmente interessante para o capital. 
 


 

Consumo e empréstimos 
 


 

Entretanto, o crescimento econômico veloz da Turquia após 2009 não se deve a "milagre econômico". Além das facilidades para o capital, a fim de atrair investimentos, o Estado turco busca incentivar o consumo doméstico, com concessão de empréstimos (já registra-se superendividamento das famílias de classes populares), assim como com redução tributária, objetivando redução dos preços sem, paralelamente, afetar o lucro das empresas. 
 

Observa-se na Turquia fluxo de capitais estrangeiros, cuja permanência contudo no país é provisória, até que encontrem condições mais interessantes que lhes permitirão maiores desempenhos. 
 

O primeiro-ministro, após a crise econômica que sacudiu a economia do país em 2001, prometeu recuperação econômica e redução da dívida pública, orientando a economia, como era de se esperar, para lucratividade do capital, e não a melhoria das condições de vida das camadas populares. 
 

Hoje, enquanto, continua reduzindo a tributação sobre o capital, conseguindo assim concentrar investimentos estrangeiros, aplica novos tributos, decreta cortes de gastos sociais, redução de salários e período de trabalho não pago. Impulsiona a "ocupação", nos modelos da UE e apresenta fictícia redução do desemprego com trabalhadores das regiões e de ocupação parcial. 
 

Paralelamente, concentram-se na Turquia empresas ligadas à indústria automobilística, química e de equipamentos mecanológicos, com resultado de a sua produção expandir-se em amplo espectro absorvendo, por enquanto, os rangidos que foram manifestados por ocasião de crise econômica de 2008-2009, quando a economia turca registrou nova queda. 
 


 

Sem fanatismo 
 


 

Os capitais estrangeiros que fluem ao país, como é natural, têm objetivo o mercado dos 75 milhões de habitantes do país, dos quais 50% têm idade abaixo de 30 anos. O paralelo aumento do poder aquisitivo dos turcos, em comparação com os anos anteriores, aumenta com empréstimos de consumo e, gradualmente, resulta em superendividamento das famílias, mas impulsiona o consumo. 
 

Simultaneamente, Erdogan surge, tanto no exterior, quanto no interior do país, como fiador da política de estabilidade, tendo conseguido superar golpes de estado e o "Grande Mudo", o poderoso Exército da Turquia, negociando "acordos", constituindo e fortalecendo suas próprias forças nas instituições do país, as quais procura gradualmente controlar, projetando o modelo de uma "suave República Muçulmana", liberta das garras do fanatismo que predomina nos regimes muçulmanos. 
 

As favoráveis condições econômicas da Turquia atraem, particularmente, as empresas alemãs, com cada vez maior número de empresas de capitais da Alemanha instalando-se no país, que constitui o paraíso ideal sintonizando baixa tributação e mão-de-obra barata. 
 


 

Georges Pezmatzoglu 
 

Correspondente. 
 


 

Expansionismo geoestratégico 
 

A Turquia, com base na Doutrina Davutoglu (Ahmet Davutoglu, ministro de Relações Exteriores) intervém decisivamente na região do denominado Grande Oriente Médio, dos países muçulmanos, assumindo o papel de "temor adversário" contra o Estado de Israel, enquanto, na realidade, alinha-se absolutamente com as políticas da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), aparentemente, funcionando como o "catalisador necessário". 
 

Embora a UE evite, sucessivamente, definir a data do início de conversações com a Turquia sobre o eventual ingresso do país na Comunidade Européia, frequentemente tem destacado o papel turco nos planejamentos imperialistas, caracterizando-a como "aliado indispensável". 
 

Por sua vez a Turquia continua evoluindo no campo energético, com objetivo de constituir-se como player regulador e indispensável à autonomia da UE, e não só um parceiro em acordos que dizem respeito à energia e os oleodutos e gasodutos. 
 


 

O Grande Mudo 
 


 

Há mais de dois anos o Governo Erdogan tenta controlar as instituições, especialmente o poderoso Exército turco, tradicional vetor de decisões sobre o país. A mais recente tentativa de Erdogan de aplicar freio e brida no establishment kemalista das Forças Armadas quase lhe custou o cargo e inaugurou nova temporada de tanques nas ruas, ao primeiro-ministro prender 250 oficiais do Exército, dos quais 175 da ativa, mantendo-os encarcerados com acusações de participação na misteriosa organização secreta Ergenekón. 
 

De acordo com o libelo acusatório, os oficiais envolvidos tinham como objetivo a derrubada do Governo Erdogan com um golpe de estado e a criação de tensões e caos no país. 
 

A tensão criada pelas prisões resultou na demissão do chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas, dos chefes do Exército, da Marinha e da Força Aérea, e criou cenários de crise político-institucional e militar no país, enquanto o gabinete do primeiro-ministro distribuía comunicado garantindo que "as Forças Armadas turcas continuarão cumprindo seu dever, com espírito de união e coesão". 
 

Isto mostrou que o Governo Erdogan já tinha recebido o "recado" e figuras de ambos os lados intercederam negociando um "acordo" que custou caro a Erdogan, porque lhe sinalizou que já havia passado os limites, assim como obrigou-o a aceitar uma série de condições, se não... 
 


 

Pró imperialistas 
 


 

A crise que provocou o rombo entre o Exército - assim como Marinha e Força Aérea - e o Governo Erdogan é resultado do visível descontentamento dos militares por causa da restrição de sua influência tentada pelo primeiro-ministro, com a indispensável ajuda dos centros imperialistas, considerando que o específico momento de um governo "democrático", mesmo de "inspirações islâmicas", interessa mais aos planos imperialistas do que um regime dominado pelo Exército. 
 

A esquerda da Turquia tem, repetidas vezes, apontado os planos e revelado os interesses de desorientação que encontram-se atrás da queda de braço entre "kemalistas" e "islamistas". E ainda destaca que a situação do povo turco mantém-se particularmente difícil. 
 

A pobreza e o desemprego estão se agigantando e o povo mergulha cada vez mais fundo na miséria, enquanto a liderança política do país sonha com expansão geopolítica e liderança do Mundo Muçulmano, esquecendo-se do povo. Mas anotem: mais cedo ou mais tarde o Grande Mudo falará! 
 

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